No dia 18 de fevereiro assinala-se por todo o mundo, desde 2007, o Dia Internacional da Síndrome de Asperger. Esta é uma perturbação neuro-comportamental que pode condicionar a vida social das pessoas com este diagnóstico e mesmo das suas famílias.
Contudo, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), esta condição deixou de ser assim nomeada e passou a classificar-se como um subtipo do Perturbação do Espetro Autista, focando-se em caraterísticas comportamentais, nomeadamente dificuldades na comunicação e de interação social, mas não apresentando dificuldades a nível intelectual.
O diagnóstico é realizado na infância ou adolescência, por especialistas na área da pediatria, neurologia pediátrica ou pedopsiquiatria, através de uma avaliação desenvolvimental e comportamental da criança. Esta avaliação é, por norma, realizada, devido à identificação de algum dos seguintes sinais/sintomas, muitas das vezes sinalizados primeiramente pelos pais e/ou professores:
– dificuldade de interação (pensamento rígido; dificuldades de regulação emocional; falta de empatia);
– dificuldade na comunicação verbal (interpretar de forma literal as palavras e expressões, não percebendo humor, ironia ou sarcasmo; interpretação de alterações da voz) e não verbal (interpretação de linguagem corporal, como expressões faciais; evitamento do contacto ocular);
– dificuldade na compreensão de regras (incluindo normas socias);
– comportamentos rotineiros ou repetitivos;
– fixação por rotinas (quando quebradas podem causar instabilidade e ansiedade);
– interesse por assuntos específicos (ex., aviões, limitando as conversas, pesquisas e atividades);
– descoordenação motora (ex., dificuldade nos desportos; falta de destreza);
– hipersensibilidade a estímulos sensoriais (ex., incómodo a sons, luzes ou texturas).
Não existe propriamente uma “cura” para os transtornos do espetro do autismo e a sua causa é também ainda incerta, assumindo-se a preponderância de fatores genéticos. Contudo, e apesar de não existir uma forma de extinguir esta condição ou possível prevenção, quanto mais cedo esta perturbação for detetada, mais cedo é possível intervir, de forma a adaptar o ambiente às necessidades da criança.Nestes casos, a intervenção tem como objetivo promover uma melhor qualidade de vida e ajustamento ao “mundo” no geral. Para tal, é importante que esta seja feita por uma equipa multidisciplinar, como pediatra, neurologista, pedopsiquiatra, psicólogo… – quando necessária medicação, devido a comorbilidades que possam surgir, como depressão, ansiedade, perturbação obsessivo-compulsiva, défice de atenção, sendo a medicação dirigida a estas questões e não diretamente à “síndrome de asperger”, pois não existe medicação para tal.
A intervenção do/a psicólogo/a é fundamental, pois permite desenvolver e melhorar as competências sociais, e emocionais das pessoas diagnosticadas, preparando-as para o seu relacionamento com os outros que afetará não apenas a sua vida pessoal, mas também a sua vida profissional, assim como a lidar com as dificuldades que possam surgir no seu quotidiano (ex., quebras de rotina, mudanças, problemas de tipo obsessivo-compulsivo, ansiedade ou sentimentos depressivos). Além disto, quando o diagnóstico de algum subtipo da perturbação do espetro do autismo é realizado em crianças, um dos focos da intervenção deve também basear-se em instruir os pais sobre como lidar com as crianças e como estruturar o seu quotidiano e ambiente que as rodeiam.
Dra. Telma Gomes
Unidade de Saúde e Terapia Mental Taipas Termal